Aproximação com startups beneficia grandes empresas
DCI - 15/01/2018 Corporações dos mais variados setores estão criando programas para se aproximar de startups e, assim, compartilhar da cultura dessas empresas nascentes e desenvolver com mais rapidez produtos e serviços inovadores.
Porto Seguro, Itaú e Telefônica são exemplos de grandes empresas que investem em iniciativas de inovação aberta, o que pressupõe colaboração com equipes externas. Duas iniciativas nesse sentido completaram recentemente dois anos de atuação: o Cubo, espaço de inovação do Itaú Unibanco, e a Oxigênio, aceleradora da Porto Seguro. Os resultados são positivos. “Sacudimos a nossa estrutura e passamos a acessar soluções inovadoras mais rapidamente”, diz Ítalo Flammia, responsável pela aceleradora da seguradora. Depois de quatro ciclos de aceleração com 24 startups no total, o executivo conta que cada uma teve uma média de quatro projetos apresentados, sendo que alguns deles foram incorporados ao portfólio de produtos da companhia. A mineira Trackage, por exemplo, desenvolveu um dispositivo capaz de monitorar bagagens após o despacho nos aeroportos. Hoje esse produto faz parte de um dos seguros para viagens da Porto. Segundo Flammia, a seguradora tem participação acionária nas empresas nascentes, mas o foco não é lucrar numa possível venda. “Eu não olho muito o valor da empresa, mas sim o que ela pode agregar para nós”, afirma. Ele diz que busca startups com sinergia em produtos e serviços. Em setembro, o Itaú comemorou dois anos de seu hub de empreendedorismo, em parceria com a operação brasileira do fundo de venture capital Redpoint eventures. Localizado em São Paulo, o Cubo (nome dado em razão do formato do prédio) está em processo de ampliação para quadruplicar de tamanho. Embora atue de forma diferente da Oxigênio, ou seja, sem comprar participação acionária nas startups, o objetivo é o mesmo: estar mais próximo do ambiente empreendedor. O diretor do Itaú Unibanco responsável pelo Cubo, Lineu Andrade, diz ter se surpreendido com o resultado obtido até agora. “Superou muito as nossas expectativas.” Aportes e empregos De fato, os números obtidos até o momento são expressivos. As 74 startups que passaram pelo espaço conseguiram atrair, durante ou depois da incubação, mais de R$ 150 milhões em aportes de fundos de investimento. Além disso, os empreendedores foram responsáveis pela criação de mais de mil postos de trabalho. Algumas startups apoiadas têm sinergia com os negócios do banco. Um exemplo é a fintech Kitado, que se comunica com quem tem débitos a fim de ajudar essas pessoas a não se endividarem novamente. A empresa chegou ao Cubo com menos de dez funcionários e cresceu tanto que teve de deixar o local. Hoje, já passa de 50 colaboradores. Por conta da alta demanda, o Itaú decidiu ampliar o espaço. O novo local ficará na mesma rua do antigo, mas com uma área quatro vezes maior. A capacidade será de 210 startups e a expectativa é que duas mil pessoas passem por lá todo dia. Na mesma linha, o Bradesco anunciou recentemente os planos de abrir seu espaço de empreendedorismo em São Paulo, batizado como Habitat. Será mais uma iniciativa no âmbito do InovaBra, programa de inovação do banco que inclui apoio, parcerias e eventualmente aquisição de startups. Formatos distintos Em outubro de 2017, uma pesquisa da assessoria especializada em aconselhamento para fusões e aquisições Altivia Ventures mostrou que há 87 empresas no País com programas de corporate venture. São iniciativas de promoção da inovação nessas companhias, seja com equipes próprias que criam novas áreas de negócios ou com colaboração externa. O levantamento aponta empresas de setores que tradicionalmente já investem em pesquisa e desenvolvimento, como as indústrias química e farmacêutica e as de tecnologia. Mas há ainda bancos, varejistas e empresas de educação, por exemplo, o que reforça a percepção de que esse é um movimento já disseminado em todos os setores da economia. Da lista completa, 18 companhias investem em startups por meio de fundos. Outras fazem aportes diretos nas novatas ou têm programas de apoio. O fundador da Altivia, Cassio Spina, avalia que os investimentos por parte das corporações tendem a crescer. “Ainda estamos um pouco defasados em relação a outros países, mas nos próximos anos o corporate venture capital [quando empresas têm participação societária nas startups] deve ser mais significativo”, diz o especialista, que também é investidor anjo. Movimento global Aproximar os times de empreendedores de negócios nascentes e os executivos das grandes corporações é uma prática comum em outros países. Shell, P&G, Nike e Disney já atuam com inovação aberta por meio de incubação ou aceleração. A Telefônica também participa desse movimento. Telefónica Open Future é a plataforma global que agrupa todas as iniciativas e projetos desenvolvidos pelo grupo espanhol no campo da inovação. No Brasil, a iniciativa mais relevante dentro do programa é a incubadora e aceleradora Wayra. O diretor da Wayra Brasil, Renato Valente, explica que a ideia partiu do CEO global da companhia, o espanhol José María Álvarez-Pallete. “Surgiu como um prêmio para empreendedores. O Pallete percebeu que os bons cérebros latino-americanos estavam indo embora”, explica. Para absorver talentos locais e impulsionar o ambiente empreendedor na América Latina surgiu a Wayra. A região conta com sete dos 11 escritórios da aceleradora pelo mundo. No Brasil desde 2012, já foram investidos R$ 10 milhões em 63 startups. O Telefónica Open Future, de um modo geral, já rendeu mais de 40 milhões de euros para o grupo só com a venda de participação nas investidas. Além do retorno financeiro e estratégico para as grandes, as parcerias colaboram para o desenvolvimento das novatas e o fortalecimento da economia. De acordo com a companhia, só em 2016 foram injetados 166 milhões de euros em aportes em empresas nascentes. Por meio do fundo Amérigo, esse valor beneficiou mais de 1.500 startups pelo mundo. Entre os cases de sucesso estão a startup norte-americana Box, que auxilia na transferência de arquivos e já tem capital aberto, e a brasileira Trocafone, que faz compra e venda de celulares usados e recebeu quase R$ 40 milhões em aportes. As universidades também estão no radar. A Telefônica mantém desde 2016 os chamados crowdworkings, espaços de empreendedorismo e inovação em universidades. Os estudantes interessados submetem seus projetos para incubação. No momento, mais de 50 equipes estão no processo de pré-aceleração. Elas poderão ser selecionadas para o programa principal da Wayra, com investimento de US$ 50 mil.