Alemã Bosch investe em soluções para cidades inteligentes
PEDRO KUTNEY, AB | De Boxberg (Alemanha)
No cenário futuro até 2050 em que 6 bilhões de pessoas, cerca de dois terços da população mundial, deverão viver nas megacidades, o dobro do número atual, fazendo triplicar o volume de tráfego urbano, a Bosch aposta todas as suas fichas no desenvolvimento de tecnologia da mobilidade, com a oferta de produtos e serviços para vencer o caos da urbanização, ajudando assim a criar as chamadas cidades inteligentes (smart cities). “Com soluções tecnológicas, a Bosch poderá ajudar a melhorar a qualidade de vida nas megacidades, com mobilidade livre de emissões, livre de estresse e livre de acidentes”, resume Rolf Bulander, presidente da divisão Mobility Solutions, como passou a ser chamada a unidade de negócios automotivos de um dos três maiores fornecedores de componentes e sistemas da indústria automotiva global.
Mais do que desenvolver a mobilidade inteligente, a companhia de origem alemã, que nasceu em 1886 junto com os pioneiros da motorização do planeta, espera ganhar uma boa parcela dos € 700 bilhões em negócios ligados ao desenvolvimento das cidades inteligentes estimados até 2020, com crescimento de 19% ao ano. A Bosch já está envolvida em 14 projetos de smart cities, incluindo São Francisco, nos Estados Unidos, e Tianjin, na China. A expectativa é que pelo menos 80 das maiores metrópoles do mundo sigam nesse sentido, como já está acontecendo com Londres, no Reino Unido, e Cingapura, na Ásia.
A Bosch traçou sua estratégia na rota desse futuro próximo e já dobrou o volume de negócios relacionados com setor nos últimos dois anos. As vendas de sistemas avançados de assistência ao motorista, como controles direção e frenagem automática que ajudam a reduzir acidentes e o estresse no trânsito, já atingiram € 1 bilhão no ano passado, as compras de radares veiculares cresceram 60% e as de câmeras veiculares 80%. A divisão Mobility Solutions emprega 227 mil pessoas no mundo e faturou € 43,9 bilhões em 2016. Este ano a expectativa é que a unidade vai crescer 7%, três vezes mais rápido do que a produção global de veículos. “Estamos avançando mais rápido do que o mercado e, como fornecedor de sistemas automotivos, somos acima de tudo um parceiro inovador da indústria. Mais ainda, estamos evoluindo para ser um provedor de serviços para usuário de ruas e estradas”, destacou Bulander, durante sua apresentação no Bosch Mobility Experience 2017, evento realizado esta semana em Boxberg, no campo de provas da empresa na Alemanha, para demonstrar as principais tecnologias em desenvolvimento.
INVESTIMENTO EM PESQUISA E DESENVOLVIMENTO
Para se preparar para o futuro a Bosch investe pesado em pesquisa e desenvolvimento, mais de € 7 bilhões por ano. No começo de 2018, mais 4 mil pessoas devem se juntar ao time de 48 mil empregados que trabalham nas áreas de P&D da empresa em todo o mundo, 1,4 mil deles alocados em um centro dedicado em Reninngen, na Alemanha, em um conjunto de 14 prédios futuristas inaugurado em 2014, onde foram investidos € 310 milhões para criar um amplo ambiente de inovação integrada e atrair as melhores mentes do setor. “Nossos esforços para ajudar a criar um ambiente urbano livre de emissões, estresse e acidentes estão ligados a três desenvolvimentos tecnológicos: automação, eletrificação e conectividade”, afirma Bulander. A Bosch concentra boa parte de suas atividades e investimentos de pesquisa e desenvolvimento nessa atual “santa trindade” tecnológica da indústria automotiva global, com o objetivo de fazer todos os meios de transporte de uma cidade inteligente convergir para essa tendência. “Serviços de mobilidade multimodal que os usuários possam reservar com alguns cliques de um mouse terão papel fundamental para reduzir os congestionamentos”, acrescenta o executivo. “Não existe cidade inteligente sem trânsito inteligente, e não existe tráfego inteligente sem conectividade”, completa.
A automação, eletrificação e conexão em nuvem dos veículos em vários níveis já começou desde o início desta década, em uma rota tecnológica levada adiante por dez entre dez fabricantes de veículos e seus maiores fornecedores de sistemas, como é o caso da Bosch. Em boa medida as três evoluções estão em curso rápido de evolução, mas a verdadeira revolução começa a acontecer na virada da década. Sinal desses novos tempos, a Bosch fechou este ano acordo com a Daimler para juntas trabalharem no desenvolvimento de um Mercedes-Benz completamente autônomo a ser laçado comercialmente já em 2022.
Ao mesmo tempo em que avança velozmente em sistemas avançados de assistência e direção autônoma, dotados de inteligência artificial para reduzir acidentes e o estresse ao dirigir, a Bosch investe € 400 milhões por ano em eletrificação do powertrain veicular como sua aposta principal para baixar emissões. As soluções já desenvolvidas e em desenvolvimento começam em carros meio híbridos com bateria de 48 volts, híbridos completos e totalmente elétricos, incluindo scooters e minicarros, sem deixar de lado a melhoria da eficiência dos motores a combustão. “Nas cidades do futuro, eletromobilidade e motores convencionais serão parte da solução. Temos investido muito dinheiro e tempo na eletrificação, mas só isso não será suficiente para reduzir as emissões ao nível que precisamos”, pontua Bulander. Para ele, os biocombustíveis como o etanol também são parte da solução: “Estamos atentos a isso, mas é uma questão regional. A situação de produção e consumo de biocombustíveis na Europa é completamente diferente do Brasil, onde biocombustíveis já são largamente utilizados”, ponderou.
Enquanto as megacidades mudam o conceito de mobilidade e transformam a indústria automotiva, a Bosch confia em sua própria capacidade de evolução nesse novo meio ambiente para continuar a escrever novos capítulos de sua centenária história. “Esperamos por grande crescimento dos negócios nessa área nos próximos anos. Os desafios do tráfego são enormes e as pressões para lidar com ele também. Podemos oferecer soluções que vão desde aplicativos para encontrar estacionamentos até sistemas para manter o ar limpo”, diz Bulander. “Vamos continuar a ser um fornecedor da indústria automotiva, mas em cima disso estamos evoluindo para ser um provedor de serviços de mobilidade. Para elaborar esses novos conceitos, também estamos revisando o conceito da Bosch”, define.