Tecnologia acessível acelera a internet das coisas, diz especialista
As tecnologias que envolvem a internet das coisas, internet industrial ou indústria 4.0 começam a ser adotadas de forma acelerada porque se tornaram mais acessíveis. Os governos devem preparar as pessoas para essa disrupção no trabalho, alerta Richard Mark Soley, doutor em Ciência da Computação e Engenharia pelo MIT e diretor executivo do Industrial Internet Consortium (IIC), principal entidade da internet das coisas no mundo.
Como foi o início da internet das coisas ou internet industrial?
É importante entender que a internet das coisas não é uma tecnologia nova. É coletar informações de um grande número de sensores do mundo todo, juntar isso e trabalhar com análises preditivas. Isso vai para os tomadores de decisões e aqueles que atuam no mundo real. Internet das coisas é algo que é feito por muito tempo, mas há uma convergência de forças nesse momento. Isso ocorre porque temos um poder de processamento muito barato, armazenamento muito barato, acesso à internet em todos locais e, muito importante, ferramentas de análises acessíveis. Isso possibilita fazer coisas em tempo real que antes não eram possíveis. Existem projetos que estão reinventando a manufatura hoje em dia, reinventando a agricultura, os serviços de ambulância na Irlanda (por exemplo) e os sistemas de saúde também.
O senhor pode dar um exemplo?
Saiu na primeira página de um jornal há 10 anos que o Google fez um estudo para entender a mobilidade das doenças baseado no que as pessoas pesquisam. Mas, ao invés disso, pede-se coletar dados de pessoas que já estão nos hospitais. Isso deveria ser feito de forma anônima e agregar todos esses dados. Se você consegue analisar, em tempo real, você pode avaliar o avanço das doenças na população em tempo real. Pode comunicar as empresas de remédios e drogas sobre o que está acontecendo, você pode avisar o hospital que isso está por vir, ver antecipadamente sobre médicos, enfermeiros e o transporte necessários. Entendendo esse projeto, dá para entender o que essa tecnologia pode causar de mudanças para diversos setores.
E sobre o futuro dessas tecnologias?
Há muita coisa convergindo. Por exemplo, inteligência artificial. Eu construí sistemas de inteligência artificial em 1980. Os computadores eram 10 mil vezes mais lentos. Essa mudança, hoje, é possível com a performance alta e custo baixo.
Que países estão mais avançados na internet industrial?
Tecnologia não respeita fronteiras. Todo mundo pergunta: quem é o líder em internet industrial? Muitos falam Estados Unidos, outros falam Alemanha. A mesma tecnologia que eles têm, vocês têm no Brasil.
Como empresas que ainda não aderiram à internet das coisas devem proceder?
Muitas das revoluções da tecnologia da informação mudaram a tecnologia da informação. A tecnologia muda manufatura, o transporte, o setor de saúde. As empresas que ignorarem isso vão morrer. Como se preparar: faça um projeto pequeno e aprenda com ele. É por isso que existem esses testes. Além disso, trabalhe com outras empresas que têm o mesmo problema. Com isso vocês podem encontrar soluções comuns. Podem pensar em participar numa organização no Brasil que é especializada em internet industrial. A Associação Brasileira de Internet Industrial (ABII) proporciona esse cenário para as empresas sentarem juntas e resolverem esses problemas. A nossa entidade, a Industrial Internet Consortium (IIC) faz isso em 54 países no mundo.
Como as pessoas devem se preparar para o mundo da internet industrial?
É muito difícil encontrar expertise, por isso a academia e o governo devem se focar nisso. A universidade está começando a ensinar internet industrial, inclusive em Joinville. Os governos precisam preparar as pessoas para essa disrupção tecnológica (a internet das coisas). Por exemplo: qual será o trabalho do motorista de táxi daqui a 20 anos? Encontrar outro trabalho. Por algum tempo, teremos motoristas, mas já temos carros em Pittisburgh que trafegam sozinhos.
Quem já está fazendo bem esse trabalho?
A Alemanha está fazendo um trabalho muito bom de preparação das pessoas. A Alemanha tem um projeto que conecta empresas com pessoas em cada Estado. Eles ensinam flexibilidade porque ninguém sabe como será o trabalho no futuro. Conectam com empresas para saber o que elas precisam. Na Alemanha não há desemprego e eles já estão começando a mudar.
Se fala nos EUA que 40% das 500 maiores empresas da Forbes não existirão mais nos próximos 10 anos devido a internet industrial. Estão sendo muito pessimistas?
Não estão sendo muito pessimista. Há apenas uma empresa que está entre as 30 principais do índice Dow Jones desde o início: a GE. O que a GE faz? É mudar sempre. Se você ouvir agora o CEO da GE, ele vai dizer que é preciso mudar. E eles estão mudando.
Qual é a importância da ABII para o Brasil na sua opinião?
Eu falo que a tecnologia não respeita fronteira, mas as pessoas precisam ficar atentas. Penso que existe uma doença na América do Sul – eu moro a metade do ano no Chile porque minha esposa é chilena – que é seguir o resto do mundo. A única forma de mudar isso é ter uma organização atenta. E essa organização é a ABII, que está trazendo empresas para um mesmo espaço, está antenada com o que está acontecendo no mundo e vai colocar projetos em testes em breve. A gente está conversando sobre como a ABI vai trabalhar com o IIC, o que é ótimo.