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VÍCIO EM TECNOLOGIA

ASSIM COMO AS DROGAS LÍCITAS E ILÍCITAS, PESSOAS PODEM DESENVOLVER COMPORTAMENTOS COMPULSIVOS AO FAZER USO DE APARELHOS ELETRÔNICOS


POR CINTHIA ZANOTTO


Mexer no smartphone enquanto conversa com outra pessoa, dormir com o aparelho debaixo do travesseiro, ou utilizar a timeline das redes sociais para fazer um diário da própria vida são apenas alguns dos inúmeros hábitos desenvolvidos por uma parcela da população nos dias atuais.De atitudes consideradas deselegantes a costumes nada saudáveis, a falta de equilíbrio ao utilizar qualquer tipo de tecnologia pode trazer danos para os usuários, especialmente quando a prática se torna um vício.


O uso excessivo de tecnologia é hoje associado a outros tipos de comportamentos compulsivos como alcoolismo, consumo de drogas e jogos. Essa é a conclusão do professor do ISE Business School e diretor do Departamento de Sistemas de Informação da instituição, Ricardo Engelbert, após discutir o tema com psicólogos.O instituto de pesquisas norte-americano Flurry Analytics reforça, por meio de dados estatísticos, o pensamento do professor. Entre 2014 e 2015, o número de pessoas viciadas em smartphones aumentou em 59%. Ou seja, antes de 2016 já existiam 280 milhões de usuários utilizando dispositivos móveis além de um período considerado normal.

“O problema é que o acesso fácil e inocente às novas tecnologias não apresenta, aparentemente, um risco inicial. Mas vamos gradativamente aumentando as doses”, afirma Engelbert.


Perdas e danos


Com o tempo, os efeitos dos comportamentos compulsivos relacionados ao uso de qualquer forma de tecnologia começam a se manifestar. Citado pelo professor, o autor Nicholas Carr descreve diversas consequências desse vício no livro intitulado “The Shallows”. Uma das manifestações mais comuns do problema é a perda do pensamento profundo. Na internet, há uma mudança no padrão de leitura, feita de forma superficial e rápida. Isso afeta a capacidade de investigação sobre os temas e informações. As pessoas também ficam mais agitadas, menos concentradas e perdem a oportunidade de construir relacionamentos de proximidade com os outros.


Segundo Engelbert, a interação face a face e o olhar nos olhos parecem incomodar cada vez mais as pessoas. “Carr diz que estamos matando nosso sistema límbico.

Daqui a pouco não vamos mais identificar reações de emoções se não tivermos um emoji ao lado da imagem da pessoa”, declara.

O ócio criativo e a produtividade diária também estão ameaçados. Quando você chegava antes que o seu amigo em um café, ficava pensando na vida, repassando as coisas e observando o ambiente. Hoje, pegamos o celular para resolver algo ou fiscalizar a vida alheia. No trabalho, pedem para pensar fora da caixa. Isso não existe. O que precisamos para ser inovadores é ampliar a nossa caixa de ferramentas com novas peças. Ao ficar concentrado no celular, estamos perdendo oportunidades de ampliar nossa visão. As redes sociais, por exemplo, expõem-nos a pensamentos parecidos com os nossos e não nos abrem os temas. Estamos convergindo no lugar de divergir”, acrescenta Engelbert.


Uso digital consciente


Para evitar desenvolver um vício ou para tentar tratar uma compulsão já existente, é preciso estar bem informado e reconhecer a existência dos riscos e danos da utilização em excesso dos celulares, tablets, computadores, videogames e por aí vai. A boa notícia é que não é preciso se desligar, mas fazer um uso digital consciente. O termo é utilizado pelo Instituto Delete, primeiro núcleo no Brasil especializado em Detox Digital e institucionalizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Tanto a organização como o professor passam dicas de como utilizar a tecnologia com equilíbrio e moderação:


  1. Estabeleça períodos para ficar off-line e longe dos aparelhos eletrônicos. Aumente os intervalos com o tempo. A disciplina nesse aspecto pode ajudar a trabalhar o autocontrole;

  2. Quando estiver trabalhando ou conversando com alguém, desconecte-se das redes sociais, e-mails e atenda aos chamados somente quando forem urgentes. A concentração afeta positivamente o desempenho no trabalho e dar atenção aos outros ajuda a melhorar os relacionamentos;

  3. Evite o sonambulismo digital. Durante o sono, mantenha os dispositivos desligados, em modo silencioso ou longe do alcance;Use a tecnologia a seu favor. Já existem aplicativos que auxiliam os usuários a darem um tempo no uso dos smartphones e outros aparelhos. Além de reunir data e mostrar quando é hora de fazer uma pausa, o sistema pode bloquear outros apps durante um período determinado pela própria pessoa. O Quality Time e o Offtime são dois exemplos;

  4. Realize uma desintoxicação digital, especialmente se a situação for extrema e gerar sofrimento. Reconheça o problema e trate o caso como um vício. Busque ajuda de pessoas próximas e de organizações como o Instituto Delete. Visite o site www.institutodelete.com e entre em contato com os profissionais preparados para dar o apoio necessário.


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