Conheça a história e a visão de três empreendedores catarinenses e suas empresas que desenvolvem pro
Tecnologia para beleza e saúde - Betina Giehl Zanetti Ramos | Nanovetores
Betina é sócia, fundadora e diretora técnica da Nanovetores, empresa de Florianópolis, que desenvolve ativos encapsulados de alta tecnologia para indústrias de cosméticos, têxteis e outros setores.
Partículas que, incluídas em um creme, reduzem as rugas da pele; outras que garantem hidratação por mais tempo; funcho doce encapsulado em creme para firmar o busto ou partículas perfumadas de liberação prolongada para aplicação em cosméticos ou tecidos. Estes são alguns exemplos de insumos industriais desenvolvidos pela Nanovetores, empresa do setor químico da incubadora Celta, de Florianópolis, fundada em 2007 pela doutora em Nanotecnologia Betina Giehl Zanetti Ramos e o seu marido, Ricardo Henrique Ramos. Embora seja, ainda, uma empresa nascente, a Nanovetores já está desenvolvendo produtos para duas grandes multinacionais de cosméticos e oferece inovação para diversos segmentos industriais e em farmácias de manipulação. Cremes com ativos encapsulados da empresa podem ser encontrados em farmácias de manipulaçãoda Capital, a Extrato Vital, Biofórmula e Maison de La Santè.
A Nanovetores ganhou impulso em 2008, quando foi contemplada com o Pappe- Subvenção da Fundação de Apoio à Pesquisa de SC (Fapesc), SEBRAE e FINEP no valor de R$ 300 mil. Em contrapartida, a empresa investiu mais R$ 130 mil para desenvolvimento até a comprovação científica e clínica dos chamados vetores ativos multifuncionais.
Como surgiu a Nanovetores?
Sou formada em Farmácia e decidi fazer doutorado na França, onde eu e meu marido moramos um ano e meio. Quando fui, aminha intenção era retornar ao Brasil e seguir a carreira de docente, na universidade. Mas lá eu percebi um modelo diferente de relação empresa-universidade. A maioria dos doutorandos já trabalhava vinculada a uma empresa e depois saía para o mercado de trabalho empregando a tecnologia que desenvolvia. Percebi que a área que eu escolhi, encapsulação de ativos é um segmento muito promissor comercialmente. E o Ricardo, como vem da Esag, tem espírito empreendedor e propôs a abertura de uma empresa de insumos para cosméticos.
A tecnologia já existia no Brasil?
Quando voltamos, sondamos o mercado e vimos que essa tecnologia estava sendo importada da Europa. A França é o paísque domina a nanotecnologia na área cosmética. Nós acreditamos que as minhas pesquisas teriam grande potencial de negóciosporque usei produtos alternativos, naturais. Optei pela água como solvente.O que é encapsulação de ativos e como é a aplicação nos produtos?É a inclusão de um ativo dentro de uma cápsula minúscula. Utilizamos biopolímeros ou lipídios (biomateriais) para a produção de micro e nanopartículas. Um caso clássico é o Dmae, um ativo bastante utilizado na cosmética, que é extraídode peixe. Em um creme, a partícula libera o produto na pele.
Quem são os principais clientes?
Desenvolvemos insumos sob demanda para duas grandes multinacionais do setor de cosméticos, que preferimos não revelar nomes. Em breve, uma marca lançará uma linha de produtos com matéria-prima que desenvolvemos. No segmento têxtil, a Dublauto, nossa cliente, utiliza nossos insumos para os chamados tecidos funcionalizados, com ativos antimicrobianos ou fragrâncias, inclusive para o segmento PET. Uma roupa de fitness contendo nanopartículas de cafeína pode auxiliar no combate à celulite – os chamados cosméticos têxteis. Os nossos produtos são multifuncionais. Uma partícula que retém perfume também pode ser hidratante ou proteger contra raios solares.
E a linha para farmácias?
Temos a linha Nature (baseada em ativos naturais) e a linha Innovation (baseada em dermocosméticos), oferecidos no nosso site para indústrias e farmácias de manipulação. Não vendemos diretamente a clientes finais.
Vocês podem produzir para a área médica?
O segmento médico está dentro dos nossos objetivos de curto prazo, porém criamos um produto cosmético com eficácia de medicamento, que resolve em quatro dias um problema de esbranquiçamento das unhas, conhecido como leuconiquia, com eficácia de cura de 43% dos casos. Nossa ideia é licenciar e transferir esta tecnologia para uma empresa do segmento farmacêutico que queira lançar no mercado. Em parceria com a Dublauto estamos desenvolvendo curativo inteligente nanofuncionalizado com materiais naturais e biocompatíveis.
Qual é o principal projeto?
Pretendemos construir uma sede própria, maior, no Sapiens Parque, ainda este ano. Podemos obter os recursos com o licenciamento do produto das unhas ou R$ 5 milhões de Capital Semente - o fundo Criatec, ligado ao BNDES, voltado a empresas inovadoras.
Inovação
A Nanovetores conta com patentes de vetores ativos multifuncionais (VAM) concebidos dentro do conceito de química verde, em processo sustentável, para atender o mercado nacional e internacional. Os produtos encapsulados são consideradosinsumos altamente tecnológicos que podem integrar a formulação de diversos produtos. Além da utilização nos setores cosmético, farmacêutico e têxtil, as partículas também podem ser usadas em alimentos e produtos veterinários.
Empresária
As atividades de pesquisadora e empresária exigem de Betina Ramos muita disciplina. Ela trabalha de manhã e à tarde naempresa. O casal almoça e janta em casa para acompanhar a filha de três anos. Quando a criança vai dormir, os doisseguem trabalhando ou estudando. Não são raras as vezes em que fazem reunião da empresa em casa, inclusive de madrugada.Além disso, Betina é convidada, com frequência, para fazer palestras para contar a sua rara trajetória, de uma jovem cientista que se tornou empreendedora utilizando seu trabalho acadêmico para criar insumos de alta tecnologia ao mercado.
Fapesc
O apoio do setor público foi importante, na avaliação dos empresários Betina e Ricardo Ramos. Segundo eles, o PappeSubvenção foi fundamental para as atividades da Nanovetores. Além disso, o casal usou capital próprio para desenvolver a empresa. O suporte da Incubadora Celta também ajudou.
Os gêmeos que inovam no laser - Rafael e Gabriel Mantovani Bottós | Welle Laser
A companhia foi fundada pelos gêmeos Rafael e Gabriel Mantovani Bottós. A influência veio da profissão do pai, o oftalmologista Júlio César Bottós. Quando crianças, eles se interessavam pela fonte de laser usada pelo pai em cirurgias de olhos e escolheram cursar Engenharia na UFSC. Estudiosos, conseguiram estágio na Alemanha e, no retorno, fundaram a Welle com apoio de incentivos de crédito à inovação.
Seus familiares são médicos. Por que escolheram Engenharia?
Rafael – Nossos pais nunca nos pressionaram para fazer Medicina. Sempre que eu e o Gabriel pensávamos em Medicina, nos interessávamos pela máquina a laser que o pai usava para fazer cirurgias. Entramos na faculdade de Engenharia da UFSC, eu em mecânica e o Gabriel em elétrica. Durante a faculdade, a gente sempre trabalhou no Laboratório de Mecânica de Precisão, coordenado pelo professor Walter Weingaertner. Recebemos um laser antigo desmontado doado pela Weg, montamos e colocamos para funcionar. O laboratório se tornou o primeiro de materiais de laser voltado para processos na UFSC.
Como surgiu o estágio na Alemanha?
Gabriel – Durante esse estágio na UFSC, a gente teve a oportunidade de ir para a Alemanha, estudamos dois anos lá e trabalhamos no Instituto Fraunhofer, um dos mais importantes de tecnologia em laser do mundo, situado na Universidade RWTH, em Aachen. Conhecemos o presidente da European Laser Institute, o PhD Stefan Kaierle. Ele é conselheiro da Welle e, no futuro, será nosso sócio.
Por que abriram a Welle?
Rafael – Voltamos ao Brasil em 2008, ainda estávamos na graduação e vimos um leque de oportunidades. Na Alemanha, percebemos o que o Brasil vai ser em laser daqui a 30 anos. Welle significa onda em alemão, a onda da luz, do laser. A onda vai em cima e embaixo. Quando está em cima, todos são amigos e ajudam, quando está embaixo, se vê quem está do seu lado. Existe um monte de aplicações que aqui não se faz. Foi quando pensamos em criar a empresa. Mas, antes de montara Welle, voltamos a trabalhar no laboratório da UFSC, criamos a primeira solda a laser da universidade. Começamos a montar a empresa em 2008. No final daquele ano até 2009, foi um ano de consultoria, de ideias, de refinar o negócio. A gente começou a empresa com o programa de incentivo Sinapse da Inovação, do governo do Estado.
Qual é a aplicação dos equipamentos de laser?
Gabriel – Produzimos uma fonte de laser (aparelho que gera a luz laser) para fazer marcação de superfícies e criar códigos de barras com mais informações permanentes. São usadas em embalagens e peças que permitem, depois, a rastreabilidade, que facilita no combate a roubos e fraudes.
E a solda a laser?
Rafael – Esta área é diretamente ligada à indústria petrolífera. O pré-sal está vindo com tudo, o que significa que a gente vai ter bastante mercado. A gente solda, em média, de sete a 15 vezes mais rápido do que a tecnologia convencional para produção naval, petróleo, tubulações de óleo e gás.
Segredo de sucesso?
Gabriel – O segredo do sucesso é confiança e o conhecimento.Rafael – É muita dedicação, trabalho duro. Welle significa onda em alemão, a onda da luz, do laser. A onda vai em cima e embaixo. Quando está em cima, todos são amigos e ajudam, quando está embaixo, se vê quem está do seu lado.
Tecnologia para a artéria da vida - Luciano Moreira | Nano Endoluminal
A artéria aorta é o poderoso tronco do sistema vascular, que distribui o sangue para todos os órgãos do corpo humano.E o negócio da Nano Endoluminal S.A., de Florianópolis, é produzir endopróteses, que são stents revestidos para recuperarpartes dessa artéria quando ela sofre aneurisma, isto é, uma dilatação do seu diâmetro (como na réplica mostrada na foto). A Nano avança em ritmo acelerado em um setor de tecnologia de ponta, dominado por multinacionais dos EUA e da Austrália.
Estreou no mercado em 2001, cresceu numa média de 16% ao ano até agora e, em 2009, teve um salto de 36% frente o ano anterior, revela o presidente da empresa, Luciano Moreira.
Vital para boa parte dos pacientes que têm o problema de aneurisma abdominal, as endopróteses feitas com fios de uma liga de níquel titânio e revestidas com filme de polímero custam tanto quanto um carro: seus preços variam de US$ 15 mil (R$ 27 mil) a US$ 20 mil (R$ 36 mil), e a maioria dos pacientes precisa de mais de uma. O Sistema Endovascular Apolo da Nano oferece cerca de mil endopróteses diferentes e 20% das vendas são sob encomenda. Os próximos desafios são o lançamento de novos produtos e o início das exportações.
Como surgiu a ideia de produzir endopróteses para a artéria aorta?
Eu, o Ricardo Peres e o Nikolaus Geisthovel viemos da área de pesquisa da UFSC e fundamos a empresa. Tivemos influência daquele movimento de empreendedorismo iniciado pela Fundação Certi em 1994 e 1995, que repercutiu com muita força dentro da universidade.Isso chamou a atenção de muitos pesquisadores. Uma empresa de base tecnológica, diferenciada, que tivesse valor.Em 1995, a gente construiu uma máquina para usinar lente de contato. Descobrimos que aquele não seria um bom negócio e paramos. Em 1996, por meio de um colega nosso, o alemão Nikolaus Geisthovel, surgiu um projeto de desenvolver a primeira endoprótese do Brasil para tratar aneurisma da artéria aorta. Pesquisamos, desenvolvemos os produtos e conseguimosa autorização da Anvisa para vender em 2001.
Qual é a participação da Nano no mercado brasileiro?
Temos cerca de 15% do mercado brasileiro. O mercado mundial tem oito a 10 players no segmento. As maiores são a Meditronik e Gore, dos EUA,e a Cook, da Austrália. Concorremos de igual para igual com essas multinacionais que faturam bilhões de dólares e, mesmo assim, estamos entre as cinco maiores marcas no país. O câmbio não tem atrapalhado. Se a gente considerar a trajetória da Nano, desde 2001, nosso crescimento médio está em 16% ao ano. No ano passado, crescemos 36%, enquanto a média mundial ficou em 10% ao ano.
Quanto a Nano investe em pesquisa e quais são seus próximos desafios?Investimos até 20% do nosso faturamento em pesquisa e desenvolvimento. Temos parcerias com várias universidades, especialmente a UFSC. Trabalhamos em parceria com laboratórios de engenharia e medicina. Queremos desenvolver produtosmuito confiáveis, que possam se adaptar ao maior número de anatomias. Estamos desenvolvendo stent revestido de diâmetro pequeno. Hoje, no mundo, há apenas duas indústrias de stents revestidos para artérias periféricas. Queremos ser o terceiro.
Quanto vocês já investiram na empresa?
Preferimos não revelar números. Mas a nossa primeira captação de dinheiro, de US$ 1,5 milhão, foi como fundo SCTec, em 2001, para finalizar o produto e lançá-lo no mercado. Por isso somos uma S.A. com sócios catarinenses. Agora, estamos buscando recursos do BNDES para ampliar as pesquisas e obter a certificação internacional. Estamos trabalhando para obter a ISO 13.485, que é a base para conseguir a certificação de qualidade da marca CE, da Comunidade Europeia. A expectativa é de que em 2011 começaremos a exportar para a Europa. Já temos contatos.
Vendem para o SUS?
Sim. Hoje, 30% das nossas vendas são para o Sistema Único de Saúde (SUS) e isso pode aumentar. O SUS tem algumas limitações, paga duas próteses. Se o paciente precisar de uma terceira, complica. Estamos discutindo uma solução como Ministério da Saúde. Hoje, há alguns reembolsos do SUS que pagam todas as próteses e outros não. Às vezes, temos que doar próteses para alguma instituição.
Encomenda
Uma das principais vantagens da Nano Endoluminal é a agilidade na entrega de endopróteses por encomenda, que responde por 20% das suas vendas. Enquanto a empresa catarinense consegue fazer entregas em uma semana, as multinacionais gigantes demoram mais de 30 dias.
Qualidade
A linha de produção da Nano é mais esterilizada do que uma sala de cirurgia. Para trabalhar nela, é preciso ter o perfil do profissional da empresa: habilidade manual, grande concentração e foco em 100% de qualidade. Só depois de seis meses de treinamento o profissional finaliza o produto sem supervisão. A meta da empresa é oferecer produtos 100% confiáveis.
Aneurisma
Há dois tipos de procedimentos para tratar aneurismas. O aberto, com cirurgia, que ainda é muito usado, e o fechado, com endoprótese. Se um aneurisma exige colo, não é possível usar endoprótese. Por isso a Nano está desenvolvendo uma prótese com fenestras e ramos para atender mais doentes. A artéria varia para um lado ou outro, e por isso são necessários novos produtos.
Indústrias
A indústria para a saúde é embrionária no Brasil. Hoje, a demanda é atendida quase 90% por multinacionais, diz o presidente da Nano, Luciano Moreira. Falta apoio do governo, enquanto nos outros países há investimentos maciços em produtos médicos.
Fonte: A VISÃO DA INDÚSTRIA - Estela Benetti